Carta endereçada à Revista "O Brasileirinho" por Rosana António datada de Agosto/09.
Minha bolsa se rompeu em casa mais ou menos às 20h do dia 05 de Junho. Às 20h30m fui atendida pela enfermeira de plantão na MAC - Maternidade Alfredo da Costa. A enfermeira, que mais parecia um sargento no quartel me olhou e disse:
- Dispa-se e deite-se. Pediu também as minhas análises e com elas ficou se abanando como se estivesse na menopausa.
Em seguida perguntou:
- O pai do bebé é conhecido?
Respondi:
- Sim?
Ela continuou as perguntas:
- É branco?
Eu, sem entender disse:
- Como? - Ela continuou:
- É branco? Cigano? Indiano? Africano?
Respondi:
- Branco.
Na mesma sala, entrou uma colega fazendo um comentário xenófobo sobre uma mulher negra que havia acabado de sair dali.
A Enfermeira, me fez um toque violento.
Quando ela terminou, desceram uns dois litros de água pelo chão.
Ela disse-me:
- Ó filha, respira para parede, não tenho eu que levar com isso. Levanta-te e começa a caminhar até chamarem-na para o quarto.
Em seguida, gritou:
- Auxiliare, venha limpar mais uma "porcaria".
Eu achei muito macabro, mas estava feliz. A Letícia estava chegando.
Uns 20 minutos depois chamaram-me para o quarto 6. Minha mãe chegou meia-hora depois. Estivemos alí, a noite toda.
No dia seguinte, a dilatação continuou muito lenta e então iniciaram a prática para induzir as tais contracções. Elas começaram logo, mas a dilatação era lenta. Avisavam-me sempre dois centímetros que aumentavam e ao quinto ou sexto chegou a médica para fazer a epidural.
Por cinco minutos não senti dores. Depois disso, comecei a sentir uma dor fortíssima do lado direito. Duas horas mais tarde, volta a Anestesista dizendo que tinha deixado "uma janela aberta".
Disse ainda que não poderia mais mexer na minha coluna e que a dor iria continuar.
Fiquei ali com esta tal "janela aberta" que mais parecia as "portas do inferno".
Aos 10 centímetros de dilatação e quase 24 horas de trabalho de parto, entra a Srª Dra. Graça e uma grande equipa. A mesma que passava por lá a cada hora para fazer o toque. Depois de muito tempo, ela percebeu que o parto não poderia ser normal.
Então começou a falar com a equipa sobre um parto a "ventosa".
Perguntei o que era o parto a ventosa, ela não quis dar nenhuma explicação dizendo que sabia o que estava a fazer.
Minha mãe insistiu, dizendo que precisava avisar o pai da criança, a Srª Drª Graça pediu que acompanhassem minha mãe à recepção e que me levassem para a sala operatória.
No elevador, escutei os comentários e a ira da Srª Drª. Graça, que dizia:
- Como assim, avisar o pai da criança?
Se quisessem explicações médicas, deveriam ter ido para uma clínica privada. Sei eu o que eu faço, não devo dar explicações.
Achei o comentário desprezível, ainda mais, se tratando da "melhor maternidade do país".
Entramos na sala e a mesma anestesista me fez mais uma dose no cateter. No mesmo instante, a Srª Drª Graça começou a discutir com a colega, se fazia a ventosa ou a cesariana.
Uma dizia para fazer a cesariana, outra dizia que já não dava mais e que fizessem logo a ventosa.
Eu, em pânico, disse:
- Mas me parece que vocês não estão de acordo!
Esta minha frase deixou a Srª Drª Graça e a anestesista furiosas. Esta última, disse que não ficava mais ali e realmente, fez a sua dose e foi embora.
A Srª Drª Graça dise que a vontade que tinha, era de não fazer o parto. Ficaram discutindo o tempo todo.
A Srª. Drª Graça se sentia ofendida e não conseguia esconder. Perdeu mais uma vez o controle e, quando retirou a Letícia, disse:
- Berra Letícia, senão a sua mãe vai fazer queixas de nós.
Olhei para minha filhinha tão linda e indefesa e pensei:
Meu Deus, como pode uma médica dizer para uma criança berrar!
Viví em quatro países antes de Portugal, e em nenhum deles as crianças berram.
Esta expressão é usada para referir-se aos animais. Mas parece que, para a Srª Drª. Graça, é também usada para as crianças em Portugal.
Depois de retirarem a Letícia, a placenta não se deslocava. Em meio a tanta perda de sangue tive uma crise cianótica. A Srª Drª Graça tentava arrancar a placenta com as unhas encravadas em minha barriga.
Depois de uns 30 minutos, a Srª Drª. Graça jogou a placenta em cima de uma mesa ao meu lado. Fiquei com uma sensação estranhíssima, como a de estar fazendo parte de um abate de vacas.
Terminando sua função, a Srª Drª. Graça pediu a sua auxiliar que me fizesse os pontos. Tive sorte!
Tratava-se da Drª Rita.
Era uma jovem médica que dias antes tinha me atendido na primeira consulta na MAC.
Diferente da Srª Drª. Graça, ela fez seu trabalho em silêncio e, quando terminou me disse:
- Rosana, ficou muito bom! Você vai ficar bem logo. Muitas felicidades!
Eu, em meio a discussão, desequilíbrio e falta de postura da Srª Drª.Graça, que de graça tem pouco, cheguei a repetir isso:
- "Estou aqui não somente por ser um sistema público, mas porque a MAC é conhecida como a melhor Maternidade do país".
Pois é! Se é assim, como será a pior???
E, para já, deixo mais uma pergunta: QUAL O SENTIDO DA MATERNIDADE PARA AS MATERNIDADES???
Palavras para quê!
3 comentários:
Olá,
Estive a ler esse seu post. De facto isso não são maneiras de se tratar ninguém. Mas fiquei admirada, porque sempre ouvi dizer que as pessoas lá são bem atendidas.Esperemos que nem todos os médicos de lá sejam como essa tal Drª Graça. Marcia, passei por aqui para lhe agradecer as palavras amigas que deixou à pouco na Mansarda. Muito Obrigada!
Um beijinho
Mariinha,
Impossível ficar indiferente, não é!
Olá*
Presente de natal para voce no meu blog*
bjs
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